16 de jan. de 2014

Resenha: A Metamorfose - Franz Kafka

Já fazia um bom tempo que eu queria ler um livro do alemão Franz Kafka, depois de todas as coisas boas que li e escutei sobre ele, e acabei comprando sua fantástica e aclamada obra A Metamorfose que, apesar de não ser seu trabalho mais renomado, é o mais conhecido e comentado.
Quem nunca ouviu a frase inicial do livro (com suas variações de tradução) "Certa manhã, ao despertar de sonhos intranquilos, Gregor Samsa encontrou-se em sua cama metamorfoseado num inseto monstruoso."? Vou além. "Estava deitado sobre suas costas duras como couraça e, quando levantou um pouco a cabeça, viu seu ventre abaulado, marrom, divididos em segmentos arqueados, sobre o qual a coberta, prestes a deslizar de vez, apenas se mantinha com dificuldade. Suas muitas pernas, lamentavelmente finas em comparação com o volume do resto de seu corpo, vibravam desamparadas ante seus olhos. 'O que terá acontecido comigo?' ele pensou."
É assim que começa esse grande clássico que conta a história de Gregor Samsa, um jovem caixeiro-viajante que trabalhava quase que unicamente para sustentar a família - o pai, a mãe e a irmã. É assim que eles são chamados na maior parte do decorrer do livro, sem a afetividade do pronome possessivo, vivendo na condição genérica de apenas pai, mãe e irmã. 
O livro é narrado sob o ponto de vista de Gregor (em apenas alguns momentos esse ponto de vista muda para a irmã) e somos apresentados aos pensamentos e dilemas que passam na cabeça dele, já que ele, da noite para o dia, passou a habitar o corpo de um inseto. Detalhe: li em alguns lugares a palavra "barata", o que é um equívoco, pois em nenhum momento Kafka diz em que inseto Gregor se transformou, inclusive: "Kafka havia pedido encarecidamente a seu editor que evitasse desenhar, mesmo de longe, a figura de Gregor". Em dado momento, a empregada da casa diz a Gregor "Vem um pouquinho aqui, rola bosta!" - "aqui a nova empregada, uma mulher do povo, proletária, que vê Gregor com a objetividade que a família não tem, sem sentir amor nem desprezo, dá a única referência mais objetiva em relação a forma de Gregor. Não o refere como animal, como inseto daninho, mas apenas como (besouro) 'rola-bosta'." Cabe ao leitor imaginar Gregor como melhor lhe convém. 
Os primeiros pensamentos de Gregor, quando se vê transformado, são que ele precisa dar um jeito de levantar e ir trabalhar, e que poderia dizer no trabalho que estava apenas um resfriado. Contudo, demora um bom tempo até conseguir sair da cama, e nesse meio tempo o gerente de seu emprego já chega para ver porquê Gregor faltou ao trabalho, o que irrita Gregor de certa forma, já que ele se considera um bom trabalhador. Os pais e a irmã mostram-se extremamente preocupados com a demora, e mandam até chamar um chaveiro para abrir a porta trancada, contudo Gregor consegue abri-la após um grande esforço e o gerente, ao se deparar com a forma de Gregor, foge assustado. A mãe passa mal, pois sofre de asma, e o pai usa da agressividade para enxotar Gregor de volta ao quarto e lá trancá-lo para que ninguém mais tivesse que aturar sua imagem grotesca. Com o passar dos dias, apenas a irmã entra no quarto de Gregor para alimentá-lo, enquanto o resto da família o ignora.
Já podemos fazer uma análise da condição humana até aí: Gregor sustenta a família inteira, que mantém um alto padrão de vida burguês, e no momento em que a situação se inverte, quando Gregor não pode mais sustentá-la e precisa de cuidados especiais, os pais viram as costas. A mãe até que gostaria de  ajudar, porém não suporta olhar para o filho. Há quem diga que a culpa de tudo é do próprio Gregor, que mimou demais a família, mas não sou dessa opinião. 
E assim a história segue, mostrando como a família e o próprio Gregor encaram a nova situação. Há espaço para inúmeras reflexões durante a leitura, e cada um chegará a uma ideia só sua ao final. A minha é que o livro é uma grande alusão a alguém que fica doente de uma hora para a outra ou um idoso que precisa ficar de cama, ou até mais precisamente alguém em coma ou que possui uma doença como Stephen Hawking, já que Gregor não consegue mais se comunicar, apenas emite chiados de inseto, contudo consegue entender tudo o que os outros falam, e também perde boa parte da visão.
Com o passar do tempo, a irmã se cansa de cuidar dele, como acontece infelizmente no mundo real, e a família passa a desejar que ele vá embora e os deixe em paz, mesmo depois de tudo o que ele fez pela família. Não posso deixar de pensar nas famílias que cansam de cuidar de seus idosos e pensam "Ah, tomara que morra logo e pare de nos dar trabalho." É triste. Quem  também sofre uma metamorfose é a família, que é forçada a voltar a trabalhar e recupera sua vitalidade e vontade de viver, expressados principalmente nas mudanças do pai e da irmã. O que acontece em seguida, você precisa ler para saber.
Reforçando, o livro deixa espaço para muitas reflexões. Kafka o escreveu em apenas 20 dias, e quando terminou escreveu à noiva "Minha pequena história está terminada." Morreu em 1924, com 41 anos.
A Metamorfose é um clássico da literatura universal, e um clássico perturbador. Com sua linguagem simples e objetiva, Kafka consegue deixar sua marca em nossas vidas. É um livro para ser lido e relido, dessa forma suas diversas interpretações podem ser melhor analisadas. Leitura obrigatória.
Nota final: 10

7 comentários:

  1. Eu geralmente fujo das leituras obrigatórios, mas sempre tive vontade de ler esse, apesar de achar que não iria gostar, a minha curiosidade é maior, eu gosto de clássicos, já li alguns, na maioria não me decepcionei, vamos ver como vai ser com esse, é um livro pequeno né?

    Gostei muito da sua forma de resenhar os livros!

    Vou seguir seu blog!

    Estandy Books - A Estante Da Andy

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    1. Olá Andy, fico feliz que gostou da resenha. É um livro que vale a pena ser lido, e sim, é bem pequeno, a minha edição possui apenas 90 páginas.
      Obrigado por participar, volte sempre!
      Abraço

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  2. Bom, eu já tentei ler esse livro e parei no meio porque comecei a me perder, mas pretendo dar uma chance novamente a um dos autores preferidos de meu pai.
    Sua resenha ficou incrível.
    Beijos e até,
    Ana.
    P.s. Lembre-se de retirar aquela coisa que vê se a gente não é um robo dos comentários, atrairá leitores.
    *retribuindo comentário*

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    1. Este comentário foi removido pelo autor.

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    2. Olá Ana,
      que bom que gostou da resenha, e obrigado pela dica, eu havia me esquecido completamente! rsrs
      Abraço!

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  3. Olá Nick; fico feliz por mais um leitor entrar na blogosfera! Gostei muito do seu blog; tanto do layout como das estruturas de suas resenhas. Sua escrita, um tanto robótica, porém, mesclada com um certo dom de seriedade e descontração, incentivam muito seus leitores a leitura! Parabéns pela iniciativa!
    Você me deu a oportunidade de conhecer este clássico, do qual não possuía conhecimento. Já deixei como leitura obrigatória em minha lista e quando eu lê-lo, vou resenhá-lo.
    Já estou seguindo o seu blog. Segue o link do meu :)
    http://conhecimentocompactado.blogspot.com.br/

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    1. Olá Lucas, muito obrigado por gostar do meu blog e segui-lo. Há tempo acompanho blogs literários, sempre achei legal podermos expressar nossas opiniões com outras pessoas que também gostam de ler, então criei um também. A Metamorfose vale a pena, é uma leitura rápida e não é difícil. Vou conhecer seu blog também, abraço!

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