30 de jan. de 2014

Recado

Olá corajosos. Gostaria de pedir desculpas pelo sumiço; recomeçaram minhas aulas na faculdade e eu curso engenharia civil, não está fácil ter tempo para estudar, imaginem ler. Eu realmente gostaria de postar uma resenha por semana, estou triste que não está dando. Mas assim que der vou postar a resenha do livro que estou lendo há 20 dias e que pretendo concluir neste fim de semana. Seria isso, obrigado por acompanhar o Biblioteca do Medo! 
Nick.

19 de jan. de 2014

TOP 10: Os livros mais assustadores de todos os tempos

E aê galera! 
Hoje vim trazer a vocês um TOP 10 com os livros mais asstadores de todos os tempos, como o título já diz. Baseei esta lista em pesquisas que fiz por vários sites especializados, opiniões de leitores fanáticos por livros de terror e é aí que me enquadro também. Não pude escolher o primeiro lugar e assim por diante, porque todos são muito bons se tratando de causar medo, mas vocês podem lê-los e depois me contarem quais gostaram mais! Então vamos lá:

It - A Coisa - Stephen King
Nesse romance o mestre do terror nos leva de volta ao tempo em que acreditávamos mais em nossa imaginação, em nossos sonhos e também em nossos pesadelos... Viu o filme? O livro é mais assustador.
Junho de 1958. Derry, pacata cidadezinha do Maine. Início das férias de verão. Para Bill, Richie, Eddie, Stan, Beverly, Mike e Ben, sete adolescentes que, pouco a pouco, se tornam amigos inseparáveis, este será um verão inesquecível. Um tempo em que vão descobrir o doce sabor da amizade, do amor, da união. Uma época em que vão provar o gosto amargo da perda, do medo, da dor. Este será um ano inesquecível. Terrivelmente inesquecível. O ano em que vão conhecer a Coisa, a força estranha e maligna que vem deixando um rastro de sangue na calma Derry. O ser sobrenatural que apresenta um apetite por inocentes crianças.

Um fotógrafo decide documentar em vídeo a mudança de sua família para uma nova casa. O projeto é executado sem problemas até que as dimensões interiores da casa tornam-se maiores do que as exteriores. Com o tempo, um labirinto de passagens aparece e desaparece, talvez habitados por uma criatura maléfica invisível. Equipada com câmeras, uma equipe tenta explorar o labirinto, mas eles são forçados a sair após a expedição provar-se mortal. Porém o que eles conseguiram filmar é um sucesso de crítica, gerando milhares de páginas de análise. Anos mais tarde, uma parte desses documentos cai nas mãos de um jovem após a curiosa morte de um vizinho. Ele descobre que as dimensões de sua própria vida podem não ser tão fixas como ele imaginava, e que ele também pode estar sendo perseguido por uma entidade desconhecida.

Nos Estados Unidos da América, algo muito estranho acontece. Atingida por uma doença que os melhores especialistas não conseguem descobrir, uma criança caminha para a morte, semeando a destruição à sua volta, ao mesmo tempo que se vai apagando numa agonia atroz. Sabe o filme? Imagine que o livro é 10 vezes mais assustador.








Hell House - A Casa Infernal - Richard Matheson
Por mais de vinte anos a Mansão Belasco permaneceu vazia. Tida como o 'Monte Everest' das casas mal-assombradas, essa construção de aspecto imponente e sinistro testemunhou cenas inconcebíveis de horror e depravação. No passado, duas expedições com o propósito de investigar os segredos que a casa encerrava terminaram em assassinato, suicídio e loucura para seus integrantes. Agora, uma nova investigação tem lugar, levando quatro estranhos ao local interditado, determinados a esquadrinhar a Mansão Belasco em busca de respostas definitivas sobre a vida após a morte. Cada um dos membros da nova equipe tem suas próprias razões para enfrentar os tormentos e tentações indescritíveis da mansão; mas, será que alguém consegue sobreviver ao mal que espreita na casa?


A Assombração da Casa da Colina - Shirley Jackson
Conta a expedição organizada por um doutor chamado Montague, para comprovar a existência de eventos sobrenaturais em uma casa amaldiçoada, construída por um milionário excêntrico chamado Hugh Crane. A casa é composta de portas que nunca permanecem abertas, salas que possuem ângulos totalmente estranhos, e uma criada que nunca permanece lá após o escurecer.Uma aura de mistérios e tragédias envolvem a casa. Pessoas se mataram, a esposa de Crane teve um acidente de cavalo no caminho para a sua primeira visita a casa, entre outras. Existem 4 pessoas na expedição, mas o livro é focalizado em Eleanor Vance, uma solteirona completamente narcisista, de imaginação fértil e um poço de rancor e ódio reprimido.A casa começa a enviar sinais, que no início atingem a todos e depois tornam-se mais específicas e se direcionam a ela especificamente. Eleanor pensa suspeitar que a casa a quer muito próxima, e não vai deixá-la ir embora.O que a aterrorizava no início agora a atrai.Ou será tudo um produto da imaginação de Eleanor? O livro é mais assustador que os filmes.

A história se passa na pacata cidade de Milburn, e envolve um grupo de quatro amigos que foram a Sociedade Chowder: Ricky Hawthorne, John Jaffrey, Sears James e Edward Wanderly, que têm o costome de reunirem-se duas vezes por mês para contar histórias de fantasmas, acompanhados por charutos e bebidas. Não importa como as histórias aconteceram, o que importa é a forma em que é contada para o grupo. Quando uma série de estranhos eventos começam a acontecer na cidade, eles resolvem pedir a ajuda de Donald Wanderly, escritor cujo último livro fora sobre ocultismo, por isso a Sociedade acredita que as pesquisas que Donald fez para o livro podem ajudá-los. Ele chega na cidade e eventos ainda mais estranhos acontecem, alguns deles incluem alguns integrantes de uma das histórias contada em uma das reuniões da Socidade.

Em 'Psicopata Americano', Bret Easton Ellis explora a maldade e a insanidade da violência. Patrick Bateman vive entre os jovens descolados da Manhattan dos anos 80. Jovem, bonito, e bem educado. Um serial killer que de dia faz fortuna em Wall Street. Sabe o filme...







Horror em Amytville - Jay Anson
Em 13 de novembro de 1974 a polícia do condado de Sufolk recebeu uma chamada telefônica que a levou ao endereço 112 Ocean Avenue, Amityville, Long Island. Dentro da casa a polícia encontrou um crime brutal: o assassinato de uma família inteira enquanto dormia. Poucos dias depois, Ronald Defeo Jr. admitiu que usou um rifle para matar os pais e seus 4 irmãos, alegando ter ouvido vozes que vinham de dentro da casa e que o influenciaram a cometer os crimes. Um ano depois George e Kathy se mudam com os filhos para a antiga casa dos Defeo. Não demora muito para que estranhos eventos comecem a acontecer, afetando a vida da família e indicando que uma presença maligna está oculta na casa. O livro é mais assustador que os filmes.



Rosemary, uma jovem recém casada com Guy Woodhouse, procura com o marido uma casa para começarem sua vida de casal. Um dia, encontram o apartamento dos seus sonhos e depressa mudam-se para lá. Numa questão de tempo o casal instala-se, Guy avança com a sua carreira de ator e Rosemary engravida como eles desejavam. Porém as coisas mudam quando o casal de vizinhos idosos começa a intrometer-se estranhamente na sua vida e a dar sugestões sobre a gravidez da jovem. Pouco a pouco Rosemary perde o controle da situação e quando tenta se soltar já é tarde demais: ela e o seu filho são vítimas de um culto ao diabo que tenciona fazer daquela criança o filho das trevas.

Louis Creed, jovem médico de Chicago, acredita que encontrou seu lugar naquela pequena cidade do Maine. Uma casa boa, o trabalho na universidade, a felicidade da esposa e dos filhos. Num dos primeiros passeios para explorar a região, conhece um cemitério no bosque próximo à sua casa. Ali, gerações e gerações de crianças enterraram seus animais de estimação. Para além dos pequenos túmulos, onde letras infantis registram seu primeiro contato com a morte, há, no entanto, um outro cemitério. Uma terra maligna que atrai pessoas com promessas sedutoras. Um universo dominado por forças estranhas capazes de tornar real o que sempre pareceu impossível. A princípio, Louis se diverte com as histórias fantasmagóricas do velho vizinho Crandall. Só aos poucos começa a perceber que o poder de sua ciência tem limites. Prepare-se para páginas de puro pavor. Em uma de suas mais terríveis histórias, Stephen King mostra como a dor e a loucura, muitas vezes, dividem a mesma estrada. 


Não foi nada fácil escolher dez títulos, há tantos outros livros excelentes para assustar como Drácula, A Outra Volta do Parafuso, Dragão Vermelho, A Hora do Vampiro, A Estrada da Noite, A Mulher de Preto, contos do Edgar Allan Poe, H. P. Lovecraft... Mas aí está. E ai, tem coragem?

Parceria

Olá, corajosos. É com muita alegria que venho aqui hoje anunciar a primeira pareceria do Biblioteca do Medo. É difícil acreditar que o blog, recém criado, já possui um parceiro - ainda mais um parceiro tão incrível como o blog A Culpa é dos Leitores, gerido pelas super simpáticas Bia e Taty. Conheci o blog delas há um bom tempo e já acompanhava muito antes de criar este blog, porque elas não fazem apenas resenhas de livros. A Culpa é dos Leitores fala de tudo que tem a ver com livros! As meninas são super criativas, já dá pra perceber pelo nome do blog, e elas postam de tudo: entrevistas, listas, especiais, sorteios, novidades, enfim: conteúdo de qualidade é o que não falta. E elas falam de praticamente todos os gêneros literários, ou seja: você encontrará ótimas indicações de livros, não importa o seu gosto.
"O Blog 'A Culpa é dos Leitores' foi criado motivado pelo amor incondicional que sentimos pelo universo dos livros. Somos cunhadas, e, invés de trocarmos receitas, trocamos livros e informações dos mesmos. Rimos, suspiramos, choramos com cada história lida, e o compartilhamento das informações é imediato. Assim, resolvemos compartilhar essas emoções com outras pessoas, que, assim como nós, amam a leitura."
Só tenho que agradecer a ambas por proporem essa parceria e desejar-lhes muito sucesso, tanto no blog, quanto em suas vidas pessoais. Até mais!

16 de jan. de 2014

Resenha: A Metamorfose - Franz Kafka

Já fazia um bom tempo que eu queria ler um livro do alemão Franz Kafka, depois de todas as coisas boas que li e escutei sobre ele, e acabei comprando sua fantástica e aclamada obra A Metamorfose que, apesar de não ser seu trabalho mais renomado, é o mais conhecido e comentado.
Quem nunca ouviu a frase inicial do livro (com suas variações de tradução) "Certa manhã, ao despertar de sonhos intranquilos, Gregor Samsa encontrou-se em sua cama metamorfoseado num inseto monstruoso."? Vou além. "Estava deitado sobre suas costas duras como couraça e, quando levantou um pouco a cabeça, viu seu ventre abaulado, marrom, divididos em segmentos arqueados, sobre o qual a coberta, prestes a deslizar de vez, apenas se mantinha com dificuldade. Suas muitas pernas, lamentavelmente finas em comparação com o volume do resto de seu corpo, vibravam desamparadas ante seus olhos. 'O que terá acontecido comigo?' ele pensou."
É assim que começa esse grande clássico que conta a história de Gregor Samsa, um jovem caixeiro-viajante que trabalhava quase que unicamente para sustentar a família - o pai, a mãe e a irmã. É assim que eles são chamados na maior parte do decorrer do livro, sem a afetividade do pronome possessivo, vivendo na condição genérica de apenas pai, mãe e irmã. 
O livro é narrado sob o ponto de vista de Gregor (em apenas alguns momentos esse ponto de vista muda para a irmã) e somos apresentados aos pensamentos e dilemas que passam na cabeça dele, já que ele, da noite para o dia, passou a habitar o corpo de um inseto. Detalhe: li em alguns lugares a palavra "barata", o que é um equívoco, pois em nenhum momento Kafka diz em que inseto Gregor se transformou, inclusive: "Kafka havia pedido encarecidamente a seu editor que evitasse desenhar, mesmo de longe, a figura de Gregor". Em dado momento, a empregada da casa diz a Gregor "Vem um pouquinho aqui, rola bosta!" - "aqui a nova empregada, uma mulher do povo, proletária, que vê Gregor com a objetividade que a família não tem, sem sentir amor nem desprezo, dá a única referência mais objetiva em relação a forma de Gregor. Não o refere como animal, como inseto daninho, mas apenas como (besouro) 'rola-bosta'." Cabe ao leitor imaginar Gregor como melhor lhe convém. 
Os primeiros pensamentos de Gregor, quando se vê transformado, são que ele precisa dar um jeito de levantar e ir trabalhar, e que poderia dizer no trabalho que estava apenas um resfriado. Contudo, demora um bom tempo até conseguir sair da cama, e nesse meio tempo o gerente de seu emprego já chega para ver porquê Gregor faltou ao trabalho, o que irrita Gregor de certa forma, já que ele se considera um bom trabalhador. Os pais e a irmã mostram-se extremamente preocupados com a demora, e mandam até chamar um chaveiro para abrir a porta trancada, contudo Gregor consegue abri-la após um grande esforço e o gerente, ao se deparar com a forma de Gregor, foge assustado. A mãe passa mal, pois sofre de asma, e o pai usa da agressividade para enxotar Gregor de volta ao quarto e lá trancá-lo para que ninguém mais tivesse que aturar sua imagem grotesca. Com o passar dos dias, apenas a irmã entra no quarto de Gregor para alimentá-lo, enquanto o resto da família o ignora.
Já podemos fazer uma análise da condição humana até aí: Gregor sustenta a família inteira, que mantém um alto padrão de vida burguês, e no momento em que a situação se inverte, quando Gregor não pode mais sustentá-la e precisa de cuidados especiais, os pais viram as costas. A mãe até que gostaria de  ajudar, porém não suporta olhar para o filho. Há quem diga que a culpa de tudo é do próprio Gregor, que mimou demais a família, mas não sou dessa opinião. 
E assim a história segue, mostrando como a família e o próprio Gregor encaram a nova situação. Há espaço para inúmeras reflexões durante a leitura, e cada um chegará a uma ideia só sua ao final. A minha é que o livro é uma grande alusão a alguém que fica doente de uma hora para a outra ou um idoso que precisa ficar de cama, ou até mais precisamente alguém em coma ou que possui uma doença como Stephen Hawking, já que Gregor não consegue mais se comunicar, apenas emite chiados de inseto, contudo consegue entender tudo o que os outros falam, e também perde boa parte da visão.
Com o passar do tempo, a irmã se cansa de cuidar dele, como acontece infelizmente no mundo real, e a família passa a desejar que ele vá embora e os deixe em paz, mesmo depois de tudo o que ele fez pela família. Não posso deixar de pensar nas famílias que cansam de cuidar de seus idosos e pensam "Ah, tomara que morra logo e pare de nos dar trabalho." É triste. Quem  também sofre uma metamorfose é a família, que é forçada a voltar a trabalhar e recupera sua vitalidade e vontade de viver, expressados principalmente nas mudanças do pai e da irmã. O que acontece em seguida, você precisa ler para saber.
Reforçando, o livro deixa espaço para muitas reflexões. Kafka o escreveu em apenas 20 dias, e quando terminou escreveu à noiva "Minha pequena história está terminada." Morreu em 1924, com 41 anos.
A Metamorfose é um clássico da literatura universal, e um clássico perturbador. Com sua linguagem simples e objetiva, Kafka consegue deixar sua marca em nossas vidas. É um livro para ser lido e relido, dessa forma suas diversas interpretações podem ser melhor analisadas. Leitura obrigatória.
Nota final: 10

13 de jan. de 2014

Conto: Quando o sol se põe - N. S. B.

Ela precisava ir no banheiro. Sua bexiga parecia explodir, porém o medo de sair da cama àquela hora de noite a mantinha imóvel sob as cobertas, suando apesar do frio do inverno. Ousou abrir os olhos e observou ao redor. Não havia nada a não ser suas colegas de quarto, que dormiam profundamente após outro dia cansativo no internato. "Para de ser cagona, não tem nada, não tem nada, vai no banheiro de uma vez!" foi o que pensou para si mesma, quando lentamente começou a sair da cama, colocou o pequeno sapato de pano e caminhou silenciosamente até a porta. Não ousou abri-la por completo, sabia que passado um momento a porta rangeria alto e acordaria as garotas.
Caminhou pelo corredor sombrio até chegar à porta do banheiro, e forçou a fechadura, mas a porta não se moveu nem um centímetro. Como poderia a porta do banheiro dos quartos estar trancada? E se alguém precisasse ir ao banheiro? "Como eu..." pensou. Sua próxima opção seria o banheiro do andar de baixo, mas as escadas estavam terrivelmente escuras e geladas para que ela se aventurasse. "Vou voltar para a cama" pensou, e seu coração se acelerou ao dar as costas e voltar por onde tinha passado. Aquela sensação de "não olhe para trás" percorria seu corpo o tempo todo, e acelerou o passo até chegar ao quarto. Quando passou pela porta, sentiu sua bexiga apertar novamente, e teve de pressionar as pernas com força para não se aliviar ali mesmo. Teria de ir ao banheiro, não aguentaria até o amanhecer. Mas sair do quarto novamente? "Coragem, vai."
Passou novamente pela porta, e o corredor parecia ainda mais sombrio que segundos antes. Caminhou até as escadas e parou no cantinho, olhando encarando a total escuridão. O corredor do primeiro andar estava tão escuro que ela teria de caminhar às cegas por cerca de cinquenta metros, até chegar à porta do banheiro, abri-la e acender por fim a luz. "Quanto mais rápido você for, mais rápido estará de volta à cama." pensou tentando se convencer a ir. 
Começou a descer, e a escuridão pouco a pouco subiu pelo seu corpo, até o ponto em que a linha que dividia a luz da escuridão passava por baixo de seus olhos. Então aquela sensação a atingiu novamente, "não olhe, não olhe para trás" pensou, mas e se... Não, não olhe. E deu mais um passo, sumindo na escuridão.
Seguiu pelo corredor agarrada à parede, até sentir a porta do banheiro. O silêncio só era quebrado pelo retumbar de seu coração, mantendo a alerta, e pelo vento gélido e entrecortante. Não fechou a porta ao entrar, e começou a tatear a parede por dentro. A porta fechou-se atrás de si subitamente, e ela parou de se mover no mesmo momento. O banheiro era tão mais silencioso que o corredor, que qualquer movimento dela denunciaria sua posição, então ficou ali, no escuro, estática pelo tempo que precisou até lembrar-se que a porta fechava-se automaticamente, e a onda de alívio fora tanta que ela quase sorriu, então voltou a deslizar a mão pelos azulejos gelados até encontrar o interruptor.
Não havia nada, o banheiro estava totalmente vazio, e ela correu para uma das cabines mais distantes. Quando terminou, lavou as mãos e ficou mais um bom tempo ali parada, apenas olhando para sua própria figura no espelho. Será que haveria alguma coisa lá fora agora, quando saísse? Seria seguro sair do banheiro? Estaria completamente escuro novamente, e se ela não conseguisse chegar até o quarto? Aquela sensação poderia voltar...
"Não há nada, não há nada." pensou tentando encontrar coragem. Ela apagou a luz primeiro, então abriu a porta devagar, colocou a cabeça para fora e escutou. Algumas folhas balançavam, dançando ao uivo do vento da madrugada, parecia seguro. Saiu do banheiro e começou a voltar. Então, quando estava quase chegando às escadas, ouviu um barulho. 
Vinha de outro corredor pouco iluminado que cortava o corredor onde estava. Ela estagnou no mesmo local, com o coração acelerado, até identificar os barulhos como vozes de garotos. Só podiam ser eles, a ala masculina não ficava longe, eles deviam estar aprontando algo. A curiosidade a envolveu, e ela chegou mais perto para ver o que faziam.
"Ele vai morrer de medo!" sussurrou uma voz masculina infantil, mas ela não conseguia ver quem era de longe. "Ele não vai, vocês sabem que ele não tem medo dessas coisas" comentou outro garoto. "Ele não tem medo de nada!" disse o terceiro, que estava um pouco mais ao longe. "Para de ser idiota, ele vai ter medo disso. Ele não é mais corajoso que eu, vocês vão ver" disse o primeiro novamente. "Tá, mas você não precisava ter matado um cachorro pra provar isso, Mat!" disse o terceiro garoto. Matar um cachorro? Eles mataram um cachorrinho? Seus olhos margearam de lágrimas, e sua boca converteu-se em um bico. Como podem matar um cachorrinho? Tinha vontade de ir até lá e falar que iria contar tudo para os professores, e que eles iam se dar mal, mas se eles tinham matado um cachorro, podiam feri-la também. "Rápido, tem alguém vindo!" "Se esconde!". Os garotos sumiram de vista, e ela viu outro garoto de cabelos louros vindo do outro lado do corredor. Ele caminhou até onde os garotos estavam e parou, olhando fixamente para o lado. Então se afastou, parecendo assustado, cambaleando para trás e permanecendo em silêncio, parado, encarando por alguns segundos o que ela não via. Caminhou até aquilo que encarava e observou melhor, levou a mão à boca, afastou-se novamente e voltou a andar sem olhar para trás, indo na direção onde ela estava.
Ela percebeu que não poderia cruzar o corredor para chegar às escadas sem que ele a visse, e teve de voltar apressada por onde veio. O banheiro seria um bom esconderijo, quando o garoto passasse, ela sairia e voltaria ao quarto. Porém, quando chegou ao banheiro e girou o trinco, a porta não se moveu. Estava trancada. "Mas como? Eu acabei de sair daqui!" um calafrio percorreu sua espinha. Talvez fosse melhor ela ser vista pelo menino e voltar ao quarto em segurança do que vagar pelos corredores sombrios e sozinha. 
Ao tempo em que pensou isso, quase morreu de susto quando alguém esbarrou em suas costas e a empurrou para o lado. "Desculpe... Quem está aí?" perguntou uma voz masculina infantil, era o garoto que ela vira passar antes. Ele fora rápido. "Não foi nada..." ela respondeu. "O que uma menina tá fazendo aqui a uma hora dessas?" ele perguntou e ela tentou imaginar seu rosto, no momento escondido pela escuridão. "E o que um menino tá fazendo aqui uma hora dessas?" ela perguntou. Os dois ficaram em completo silêncio e na mais completa escuridão, apenas escutando a respiração um do outro. "Tudo bem." ele disse, então voltou a andar. Ela ia seguir o caminho oposto quando ouviu os rangidos pesados da escada, parecia que alguém grande vinha, e com pressa. Não seria nada bom se ela fosse vista fora da cama àquela hora com um garoto no mesmo lugar, e desculpas como "fui ao banheiro" não eram muito bem aceitas.
"Espere!" sussurrou ao correr na direção por onde o garoto andava. "Aonde você vai?". O garoto acelerou o passo aparentemente ao notar que alguém descia as escadas. "Eu só estou indo ao banheiro, o banheiro do meu andar está trancado!" ele sussurrou, então abriu uma porta e entrou, e ela não hesitou em segui-lo. "Você não pode entrar aqui! É o banheiro masculino!" ele disse ainda sussurrando. "Por favor, só até aquela pessoa passar!" ela disse. "Tudo bem..." ele deslisou as mãos pela parede assim como ela havia feito, até ascender a luz. O garoto olhou para ela piscando, enquanto seus olhos se ajustavam à luz, e ela viu que ele tinha cabelos louros bem cortados, olhos azuis e um nariz pequeno. Usava um pijama listrado bordô com vermelho e amarelo, e um robe de mesmo tecido macio por cima. Ela achou-o interessante, pois sabia que ele não frequentava as mesmas aulas que ela, já que lembraria se tivesse visto aquele menino bonito. Talvez ele fosse mais velho, mas apenas os garotos quatro anos mais velhos não tinham qualquer aula com ela, e ele não parecia tão mais velho assim. "Acho que vou apagar a luz novamente, para que a pessoa não veja a luz por baixo da porta e nos descubra aqui" ele disse, e ela assentiu. "Muito sensato..." pensou para si mesma. 
"Você está fazendo... xixi?" perguntou, ao ouvir um pequeno ruído de água vindo de uma das cabines. "Uh... eu não conseguia segurar mais..." ele disse parecendo envergonhado. 
Quando os passos já haviam passado, ele abriu a porta e saiu, e ela o seguiu quando ele avisou que não havia ninguém no corredor, pelo menos ninguém que ele escutasse. 
"Então, eu vou voltar por ali e você por ali, certo?" ela não sabia onde eram ali e ali que ele indicava, já que não se via nada no corredor, contudo disse que sim e começou a caminhar novamente. Quando ele a segurou pelo braço e a fez parar, ela viu que o corredor por onde ele tinha vindo, onde antes havia alguma iluminação estava agora completamente escuro. Nem um sinal de luz até o fim era visível. "Acho que vou por outro caminho..." ele comentou sussurrando. "Eu caminhei na escuridão, e não tive medo. Você não devia ter medo." ela respondeu, sabendo que mentira quanto a ter medo, porém queria parecer corajosa. "Duvido que tinha um cachorro todo cortado, com a pele arrancada deitado morto em uma poça de sangue nos caminhos escuros que você fez." ele disse. Ao imaginar a cena, ela se agarrou ao braço dele "coitadinho!" grunhiu baixinho, sem largar o braço do garoto. Ele colocou o outro braço meio sem jeito no ombro dela e  a trouxe um pouco mais perto, engolindo em seco. "Desculpe..." disse num sussurro. Eles se separaram e ele começou a voltar pelo caminho do banheiro, e ela por um momento pensou em segui-lo, então lembrou-se que não havia sentido nisso. Por fim, deixou-se levar, e seguiu-o. "Vai ao dormitório masculino?" "Não, só vou por outro caminho também." respondeu, porém o outro caminho que teria de fazer era tinha quase quatro vezes a distância que o caminho por onde ela viera.
Os dois alcançaram o final do corredor, que dava acesso a um pequeno pátio com duas árvores, algumas flores e bancos. Ao passar os olhos pelo pátio que estava quase tão escuro quanto o resto do colégio, já que aquela era uma noite sem luar, ela reparou em um movimento sobre o banco. Não tardou para ouvir gemidos e choramingos, e ele também pareceu notar, já que se aproximou dela e ficaram os dois em silêncio absoluto, vendo e ouvindo.
Silenciosamente, se aproximaram para conseguir ver melhor. Demorou um tempo para que ela entendesse o que estava acontecendo: havia um menino ajoelhado ao lado do banco com o corpo deitado sobre este, ele estava sem calças e havia lágrimas em seus olhos, seu rosto estava contorcido. Havia um menino um tanto maior, com as calças até os joelhos que estava montado sobre o outro, se segurando ao banco e movendo-se para frente e para trás num ritmo rápido. "Para de choramingar antes que alguém escute!" disse o maior. Ela não conseguiu se mover, não conseguia desviar os olhos de tanto horror que sentia. Aquilo era a coisa mais terrível que ela já imaginara ver em sua vida, e só acordou de seu transe de todos os pensamentos mais horríveis que já tivera porque o garoto ao seu lado começou a segurar a mão dela tão forte que ela achou que fosse quebrá-la. Com a leve iluminação, ela viu em seu olhar o mesmo horror que ela sentia, mas algo além. Ele parecia queimar de raiva. Largou a mão dela e começou a avançar para o lugar onde os garotos estavam no pátio, mas ela não o seguiu.
Ele chegou silenciosamente, e os garotos não o viram já que estavam ambos de olhos fechados. Só os abriram quando ele acertou o garoto maior com um soco tão forte que o fez cair para trás, e ela viu pela primeira vez as partes íntimas de um garoto. Eram diferentes do que ela imaginara, será que eram todos iguais? Ele chutou o garoto caído no meio das pernas, e este berrou e se contorceu no chão enquanto o outro garoto se levantava a calçava as calças com dificuldade. Ele estava de costas para ela, e ela viu um fiapo de sangue que parecia escorrer pelo meio de suas pernas. "Oh! Meu Deus!" ela pensou, e teve de se segurar para não deixar as lágrimas correrem pelo rosto. Quis que o garoto que estivera com ela batesse no outro tanto, mas tanto que ele chegasse a desmaiar. E ele bateu.
"Você está bem?" ela perguntou sem jeito ele quando retornou. Seu cabelo estava bagunçado e fios de suor escorriam por seu rosto. Ele massageava a própria mão, e quando esticou-a para avaliá-la, ela viu sangue escorrendo onde os ossos se destacavam. "Você não devia ter feito isso..." disse o garoto que já tinha conseguido colocar as calças. Secava as lágrimas com as costas da mão. "Você não entende? Não dá pra escapar disso. Eles preferem as meninas, mas quando não podem com elas, pegam a gente. E agora você vai ser o próximo, não tenha dúvidas!" E saiu correndo com dificuldade, meio mancando por outro corredor escuro. Ela se assustou com o que o garoto disse, agarrou o amigo pela cintura e apertou forte, como se pudesse protegê-lo de algo. "Tudo bem, eu não vou ser o próximo, não se preocupe..." disse. "É você que precisa se preocupar! Você ouviu o que ele disse, não tem como escapar!" ela apertou-o ainda mais forte. "Eu me garanto..." ele disse, e ela o largou. "Vamos continuar nosso caminho então." E assim ela e ele atravessaram o pátio, passando pelo garoto caído no chão. Ela reparou que a boca dele estava torta, e seu rosto todo ensanguentado. As partes íntimas ainda escancaradas pareciam menores e também sangravam. "Eu devia ter feito pior... devia ter feito o mesmo que ele fez..." disse o garoto com dor e desprezo em sua voz. "Não! Por favor, jamais faça isso!" disse ela encarando o rosto do garoto. "Eu não faria com meu... quer dizer, eu pegaria outra coisa, um cabo de vassoura, tanto faz..." "Não! Prometa que não fará isso, prometa!" Ele olhou para ela, e quando já entravam em outro corredor escuro, ele respondeu: "Prometo."
Os dois pararam em frente ao corredor que era tão pouco iluminado quanto o pátio em que se encontravam. Entraram e seguiram em silêncio até metade do caminho, onde outro corredor cortava este. Eles enfiaram a cabeça para ver se este estava vazio, e como não viram ninguém, atravessaram-no a passos rápidos. Então ouviram uma voz feminina vindo de algum lugar, e procuraram até encontrarem uma porta por onde ela via uma luz amarelada saindo por baixo. Os dois se encararam, e depois de algumas discussões mentais, dispararam no mais absoluto silêncio até alcançar a fechadura. Ela foi a primeira a espiar.
Havia uma mulher lá dentro, toda vestida de preto, com um chicote na mão. Caminhava por entre alunas sentadas em carteiras, também vestindo preto, mas ela não conseguiu ver os rostos das alunas já que estavam de costas para a porta. Ao fundo, no quadro negro, estava escrita a palavra "Detenção", e ela muito estranhou o horário para aquilo. Nunca ficara de detenção naquele colégio, mas uma amiga que já ficara disse que a detenção durava uma hora, e que era a tarde. Faziam uma redação sobre algum tema e podiam sair. Aquilo era diferente...
"Vocês vão agora pagar por seus pecados." disse a mulher, então arrastou a menina da primeira carteira, que possuía cabelos crespos e pele negra até a frente do quadro. A mulher ergueu com delicadeza a blusa da menina pelas costas, e a colocou sobre o rosto da mesma. A empurrou de modo que a menina ficasse levemente curvada, com as costas brilhando à luz das velas. A menina tremia descontroladamente, e choramingava baixinho. "Vocês pagarão por seus pecados todas as noites a partir de agora." disse a mulher, então, tão rápido que ela mal conseguiu ver, levantou o chicote no ar e desferiu um golpe nas costas da garota. Esta gritou baixinho e caiu no chão ajoelhada, nem ao menos tentou fugir. 
Ela afastou-se do trinco chocada para que ele pudesse ver, e enquanto ele assistia, ela ouviu mais três vezes o som do chicote batendo na pele das meninas, e tantos outros gritinhos. Quando ele se afastou, olhou para ela com o olhar igualmente chocado. Ele olhou dela para as próprias mãos, avaliando seus ferimentos, e ela o afastou da porta imaginando o que passava por sua cabeça. Não era possível ajudar, não como ele estava tramando. "É melhor irmos, ela é professora, provavelmente nós é que estaremos ali amanhã se tentarmos algo!" disse ela. "Talvez, mas provavelmente não. Você não notou que todas as meninas eram negras? Maldita racista! Ela vai pagar!" De fato, ela não havia notado que todas garotas eram negras. Sentiu um enorme aperto no peito, aquelas meninas provavelmente não haviam feito nada de errado , estavam ali apenas por serem negras! Isto não é um motivo! "Sim, ela vai pagar..." pensou consigo mesma. Na manhã seguinte eles pensariam em algo.
Voltaram ao corredor onde por onde vinham e seguiram até o final, onde finalmente este dava acesso a um grande salão que servia de lugar para apresentações, festas, almoços e jantares. Apenas o café da manhã era servido em pequenos salões separados por dormitórios. No grande salão uma pequena luz ao fundo estava acesa, deixando-o levemente iluminado, um pouco mais que o corredor por onde vinham. Também não havia ninguém, porém ouviram vozes vindas do corredor do outro lado do salão. Se esconderam atrás de uma mesa e ficaram espiando quando um grupo de cinco garotas entraram no salão arrastando um rapaz um pouco pelo cabelo. "Aaaai! Pra que isso Susie?" perguntou o rapaz. Ela agora notava que eram todos mais velhos que ela mesma e o amigo. Ele estava no último ano, ela lembrava-se dele por causa dos jogos de futebol. Ele era o capitão da equipe, e vivia ao lado da garota loira que vinha à frente das outras. "Porque você transou com aquela vagabunda. Eu te avisei, te falei que uma vez que a gente transasse, você não poderia ficar com outra. E você ficou." "Mas nós terminamos, eu não tenho mais nada com você!" ele cambaleava de um lado para outro, tropeçando nos próprios pés depois que as garotas o largaram, até cair no chão e não conseguir se levantar mais. "O que você me deu? O que você vai fazer?" disse ele tentando se arrastar até um banco. "Você vai ver..." disse ela, e fez um sinal para as outras meninas. Algumas hesitaram, mas então caminharam até ele, o levantaram e o arrastaram até uma parede do salão. Susie seguiu-os e começou a puxar do correntes penduradas que desciam devagar. Tirou dos bolsos dois ganchos de ferro do tamanho de suas mãos e os prendeu às pontas das correntes. "Susie! NÃO! PARA COM ISSO!" o rapaz gritou e tentou empurrar as outras para longe sem qualquer sucesso. "Agora você vai sentir a dor que eu senti... na nossa primeira vez." Ele olhou para ela com os olhos arregalados. "Calma, não vai ser lá... Eu gostaria que fosse, mas isso provavelmente te mataria, e não sou uma assassina." Ela se aproximou e usou um dos ganchos para rasgar o pijama do rapaz, deixando seu peito a vista. Passou a mão pelos músculos de seu abdômen e colocou a mão dentro de suas calças. O garoto começou a gemer de dor, contercendo o rosto  e só parou quando ela tirou a mão de lá de dentro. "Ué, achei que você gostasse de apertadinhas..." Então ela agarrou um gancho com força e o enfiou no músculo do lado direito do peito dele, como se colocasse isca em um anzol. Fez o mesmo do lado esquerdo enquanto o rapaz urrava de dor e seus olhos rolavam para trás. Fios de sangue começaram a escorrer dos lugares onde os ganchos entravam e saíam. "Podem subir." Disse ela. As garotas largaram-no e agarraram as correntes, começando a puxá-las para longe. Ao mesmo tempo, os pés dele deixaram o chão, e seu corpo começou a subir, puxado pelos ganchos em seu peito. Ele urrou ainda mais alto por algum tempo, então parou e ficou em total silêncio enquanto era erguido mais alguns centímetros pelas correntes. Lágrimas saíam de seus olhos, e seu corpo pendeu para trás, deixando a cabeça caída, a boca entreaberta e o olhar fixo no horizonte de ponta cabeça. "Ele morreu?" perguntou num sussurro uma das garotas que puxavam as correntes. "Não, ele está respirando, veja." respondeu outra garota. Susie fez um sinal para as garotas, que param de erguê-lo e deixaram o salão. Por fim, ela também se foi.

Ela estava agarrada a ele, tremendo enquanto ele mantinha sua mão sobre a boca dela para que não gritasse. O rapaz pendurado pelas correntes estava a cerca de trinta metros deles, e a dez metros do chão. Seus olhos se fecharam quando Susie saiu, e ele não podia ver que os dois se aproximavam. Ela tentou pegar um lado das correntes para baixá-lo, mas não alcançou. Ele alcançou as duas pontas e começou a descer o rapaz, que continuava imóvel.
"Será que... tiramos?" perguntou ela, apontando de olhos arregalados para os ganchos no peito do rapaz que já estava no chão. "Acho melhor... vamos levá-lo a enfermaria..." disse ele. Encararam os ganchos assustados, nenhum queria ser o primeiro a tirá-los. "Ele já mostrou que é corajoso, agora é minha vez. Quanto mais rápido, mais fácil." Pensou ela, então agarrou um dos ganchos e retirou o mais rápido que pôde, tomando o cuidado para não machucar ainda mais o rapaz. Este abriu os olhos e soltou ar pela boca com um gemido de dor baixo, não parecia estar vendo as duas crianças agachadas sobre si. Então era a vez do garoto. Ele pegou um gancho e retirou-o extremamente devagar, sua mão tremia e ele fazia caretas cada vez que o rapaz reclamava da dor. Por fim, levantaram-no e o arrastaram por outro corredor, a enfermaria não era muito longe dali. Ela não estava muito confortável em aparecer na enfermaria àquela hora com os meninos, ainda mais com aquele rapaz naquele estado. Estivera fugindo de todos com medo de ser vista, e agora iria se entregar assim, tão fácil. Porém não ousava reclamar, o rapaz precisava de ajuda e isso era mais importante que algum mero castigo por sair à noite. Nem pensava sobre o que aconteceria com as garotas, ou o que elas fariam com eles, ou com o rapaz. Será que ele ficaria bem? Esperava que sim.
Chegaram à enfermaria e deixaram-no sentado no banco ao lado da porta. "Acho melhor batermos na porta e nos escondermos, assim ninguém nos verá." Disse ele. Ela concordou. Bateu na porta antes que ele pudesse fazê-lo, e saíram correndo. A porta se abriu quando os dois já estavam agachados atrás de um grande vaso de flor, bem escondidos na escuridão. Ninguém apareceu por um tempo, até que um senhor colocou a cabeça para fora, e quase caiu de susto ao visualizar o rapaz sentado no banco ao seu lado. Levou-o para dentro e fechou a porta. Eles saíram correndo sorrindo um para o outro pela façanha: ajudaram o rapaz e ninguém os havia visto, eles conseguiram!
Seguiram pelo corredor até virarem em outro, e novamente em outro, subiram um lance de escadas e lá se encontravam: o final da aventura sombria. Cada um seguiria para seu quarto, dormiriam e talvez nunca mais se vissem. "Bem, a gente se vê então." Disse ela, acenando com a mão. "É... acho que sim. Tchau." Disse ele. "Tchau." Ela se virou e começou a caminhar, sentindo-se triste. "Espere!" Ele correu até ela e a abraçou. Então se afastou e caminhou até desaparecer na escuridão. "Qual é o seu nome?" Ela gritou baixinho, quando seu coração acelerou ao perceber que não sabia o nome do primeiro garoto pelo qual seu coração acelerava. Porém nenhum som veio da escuridão. Ficou ali parada mais um tempo, na esperança que ele retornasse, sentindo-se triste e feliz, até que o corredor tornou-se mais escuro que antes, e mais silencioso. Ela não estava mais com ele, estava novamente sozinha e o medo voltou a engolfá-la. "Vire-se e não olhe para trás." Pensou a si mesma, quando moveu-se e começou a correr para o quarto. Fechou a porta devagar e correu até sua cama, onde deitou-se o mais rápido que conseguiu, puxou as cobertas até cobrir-se toda, até a cabeça, e ali ficou. Sabia que pela manhã o internato voltaria ao normal: as portas não se trancariam mais sozinhas, garotos não matariam cachorros, nem estuprariam uns ao outros. Nem professoras más agrediriam alunas, e essas não pendurariam ex namorados pela pele. Era tão estranho o que a noite fazia com as pessoas. Teve de rir de si mesma por lembrar que estava com medo de sair da cama imaginando que fantasmas perambulavam o lugar. "Temos que ter medo dos vivos, e não dos mortos." Pensou, mas pelo menos pela manhã estaria tudo normal. "Pelo menos até o sol se pôr..."

Resenha: Se Houver Amanhã - Sidney Sheldon

Olá corajosos que se aventuram pela Biblioteca do Medo. Hoje vou falar sobre um romance policial já muito famoso: Se Houver Amanhã - provavelmente o mais famoso dos romances de Sidney Sheldon. Este foi o primeiro livro que li do autor, e já me tornei totalmente fã.

Resumo: A vida da jovem Tracy Whitney muda drasticamente quando, vítima de uma ação criminosa, ela é condenada por um crime que não cometeu. Rejeitada pelo homem que amava e abandonada à própria sorte, Tracy se vê sozinha em um mundo violento e sombrio. Depois de cumprir pena e ter de volta sua liberdade, ela só tem um objetivo: vingar-se dos homens que a colocaram injustamente na prisão. Para isso, ela se torna uma expert em disfarces e especialista em aplicar golpes em empresários inescrupulosos. Mas seus planos podem ir por água abaixo quando o destino coloca em seu caminho um poderoso rival, Jeff Stevens, um irresistível trambiqueiro.

Tracy Whitney tinha a vida perfeita: iria se casar com o moço rico e bonito, estava grávida de poucos meses e tinha um bom trabalho em um banco. Tudo muda quando sua mãe comete suicídio e Tracy é chamada até a cidade onde ela morava para cuidar dos preparativos funerários. Lá, Tracy descobre o real motivo que levou a mãe a cometer suicídio e, ao tentar vingá-la, é acusada injustamente de roubo por uma facção criminosa e vai parar na cadeia. Até aí, o livro já possui um clima tenso e envolvente, enquanto a ingenuidade de Tracy a puxa cada vez mais ao fundo do poço. E se esse fundo existe, ela o encontrou na prisão. 

Esta é a parte mais sombria, recheando de horrores a estadia de Tracy por lá. O único motivo que a mentém de pé é a raiva e a esperança de poder vingar a morte da mãe, de seu bebê que perdeu na prisão, e a si mesma. Tracy torna-se mais esperta - muito mais, deixa de lado a ingenuidade e constrói uma fortaleza interior quase impossível de derrubar. 

Tracy não é mais a doce garota, é uma mulher mudada. O suspense toma conta, e nos pegamos torcendo para que tudo dê certo para essa nova protagonista anti-heroína. A partir daí, muitas reviravoltas acontecem, e a cada página o leitor é surpreendido com toda a adrenalina, esperteza, trapaças e também é claro, romance, com os quais Sheldon esculpiu essa incrível história. A trama é empolgante, energética e impossível de largar antes do fim. Leitura obrigatória.

A edição que li foi a vira-vira da Saraiva, a qual possui alguns erros de revisão que incomodam um pouco, contudo o livro é bom demais para que isso importe. É barata, edição de bolso, mas vale a pena. Há também outra edição da Record, mais cara porém melhor. 

O livro foi publicado originalmente em 1985, e seu autor, Sidney Sheldon, faleceu em 2007 por complicações causadas por uma pneumonia, aos 89 anos - uma pena, afinal.

Nota final: 9,0.